sábado, 5 de janeiro de 2013

Ruby Sparks: autoria, genialidade e romance

Meus dedos tocam o teclado enquanto o coração ainda bate forte por Ruby Sparks: A Namorada Perfeita. Apaixonante, sorridente, complicada, ruiva. Ruby Sparks é tudo o que o escritor Calvin Weir-Fields sempre quis para a sua vida. É fácil se apaixonar por Ruby Sparks, é fácil ficar com raiva dela, Ruby Sparks é um ser humano, e tal qual um ser humano tem seus altos e baixos. Ruby Sparks é normal. Melhor pensando, nem tanto assim.


Ruby (interpretada pela atriz e roteirista do filme, Zoe Kazan) é fruto da imaginação do escritor e sucesso precoce Calvin (papel de Paul Dano que, por sinal, é namorado de Zoe na vida real há 5 anos). Um belo dia, respondendo às ânsias do seu terapeuta para fazê-lo mais sociável, Calvin coloca no papel todas as qualidades de uma mulher que conheceu em sonho. Ele escreve, escreve, escreve, e, dessa forma, começa a dar forma ao manuscrito de seu novo livro que há muito tempo estava empacado.

Ao pensar e escrever sobre Ruby, Calvin acaba fazendo algo mágico: transformando o ficcional em real. Depois de descrever sua relação dos sonhos com a ruiva, um belo dia ela aparece em sua casa, como se realmente tudo na folha de papel estivesse de fato acontecendo. Ok, diversos outros filmes tem essa premissa. Mas Ruby Sparks tem um trunfo em sua mão. Esse longa metragem põe inteligência no gênero das comédias românticas, servindo de alegoria para diversos temas, tais como o ato de criar e o ato de se relacionar com os outros.


O casal protagonista pode ser visto de duas formas. O Calvin criador e a Ruby criatura ou o casal Calvin e Ruby juntos aos seus problemas que todo casal tem. Em ambos, as desventuras nos ensinam coisas interessantes. 

Criador e criatura

No campo do criar, Ruby Sparks acerta em cheio em retratar o diálogo criador/criatura, materializa ao máximo a metáfora. O filme representa narrativamente o embate que muitas vezes os artistas (eu não sei se já posso me incluir na categoria :B) tem com seus próprios trabalhos, conflitos que podem inclusive desgastar o autor. Além disso, o longa toca em um assunto interessante para quem gosta de artes, faz artes e, consequentemente, se entrega ao processo criativo: a genialidade. Calvin odeia ser chamado de gênio.

Recentemente, ao andar pelos caminhos intelectuais do TED (já falei desse site em outra postagem, sobre remixagem), encontro uma palestra fantástica sobre criatividade. Elizabeth Gilbert, autora do livro Comer, Rezar e Amar, se debruça em sua explanação sobre o ato de criar e todos os seus mitos e estigmas. Uma conversa engrandecedora e que todo mundo que gosta de desenhar, escrever, atuar ou, resumindo, produzir artes, deveria assistir.


Um dos momentos mais importantes da palestra, para mim, é quando Elizabeth fala sobre o conceito romano de "gênio". Similar à história do Aladin e da sua lâmpada, "gênio" para os romanos eram entidades para lá do próprio artista, algo como um ser invisível que morava pelas paredes do estúdio do autor, esperando a hora adequada para "baixar" nele e fazer a arte acontecer. Ou seja, antigamente, ser um bom artista não se tratava de SER um gênio, mas de TER um gênio. Na época, pelo visto, os artistas não chegavam a ser tão pedantes quanto alguns chegam a ser hoje em dia.

De certa forma, Ruby foi para Calvin um gênio. Ela trouxe a iluminação a ele. Mas já estamos falando de representações semióticas, partamos para o próximo tópico.

Namorada e namorado

Como a própria tradução do nome do filme afirma, Ruby Sparks é a namorada perfeita. Mas como, se ela e Calvin brigam tanto? O filme traz os problemas de Calvin em sempre procurar a perfeição do modo que ele acha que ela é. O relacionamento dele com Ruby passa por momentos conturbados, e a gente acaba parando para pensar sobre se é saudável ou não colocar no parceiro os reflexos que nós gostaríamos que eles fossem. De certa forma, temos um mundo das ideias platônicas em nossas cabeças e queremos que o outro seja essa imagem perfeita. Até que ponto isso é saudável para si e para o outro?


Ruby Sparks: A Namorada Perfeita é uma comédia romântica. O filme dirigido pela dupla responsável por Pequena Miss Sunshine coloca um novo e belíssimo tijolo nesse castelo muitas vezes enfadonho do gênero. A dupla também coloca um excelente tijolo no castelo das histórias sobre contar histórias. É arte falando de artes, tanto da de escrever, quanto da de amar.

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