domingo, 13 de janeiro de 2013

Cloud Atlas, A Viagem, crítica, presente, passado e futuro

Os responsáveis por catalogar e organizar as prateleiras das locadoras entre filmes de ação, aventura, comédia, drama, ficção científica, dentre outros, terão grande dificuldade para decidir onde colocar o DVD de Cloud Atlas, traduzido no Brasil como A Viagem. A mistureba do diretor de Corra, Lola, Corra, Tom Tykwer, e dos irmãos Lana e Andy Wachowski, de Matrix, envolve ficção científica, comédia, épico, drama, romance e uma trama complexa sobre a vida e a conexão que temos com as pessoas que por ela passam.


Os nomes de peso representando as dezenas de personagens em seus respectivos tempos são uma atração à parte. Tom Hanks, Halle Berry, Hugo Weaving, Susan Sarandon, Jim Sturgess, Hugh Grant, Jim Broadbent, Ben Whishaw, Keith David, e (a lindinha kawaii tchuquitchuqui >_<) Doona Bae. Representando diferentes personagens em diferentes tempos, que vão desde o século XIX a um futuro pós-apocalíptico, a miríade de atores se reveza em um longa metragem cheio dos mais diversos tipos de sensações e plots.

A ideia dos diretores de colocarem os mesmos atores fazendo diversos personagens nas seis diferentes épocas históricas da narrativa ocorreu no meio do processo criativo, segundo um artigo da revista The New Yorker (deliciosamente resumido pelo site Brainstorm 9). Além do fato de, dessa forma, os custos da produção diminuírem (menos atores, menos custo, já que Cloud Atlas foi resultado de uma verdadeira batalha atrás de financiamento), reitera-se o conceito de conectividade que o filme defende. Estratégia extra-narrativa que mata dois coelhos com uma cajadada.

Andy Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer.
A equipe de maquiagem merece aplausos. Temos atores negros se tornando asiáticos, asiáticos se tornando brancos, brancos se tornando negros, homens se tornando mulheres e vice-versa. O que demonstra de forma sutil que, muito mais que a pele, o sexo ou a nacionalidade, os sentimentos são humanos, e as almas, os carmas, transcendem tudo isso. O que menos nos diferencia perante as intempéries do destino e do tempo são nossas características fisiológicas.


É difícil descrever a grandiosidade do longa-metragem. O próprio trailer é grandioso. O livro em que foi baseado foi definido pelo próprio escritor, David Mitchell, como "infilmável". Infelizmente, tal livro não foi publicado por aqui. Acho difícil de termos esse título traduzido em livrarias brasileiras. Se nem o blockbuster do cinema fez os olhos das editoras brilharem, acho complicado termos essa história traduzida em nossas bibliotecas pessoais.

No livro, a história se desenvolve das eras passadas para o futuro e, em determinado momento, a narrativa retorna. Do passado para o futuro, do futuro para o passado. No filme, os diversos plots se desenrolam e se entrelaçam, linkados por temáticas. Temas como morte, dor, violência e amor são como diferentes agulhas que costuram os tempos e os diversos personagens de forma emocionante e poética.


Vale a pena assistir e depois dar uma olhada no infográfico de atores e personagens em diferentes épocas que você pode ver clicando aqui. Aqui, outro infográfico mais completo, sobre as interações entre personagens, os pontos de virada e gêneros de cada uma das seis narrativas diferentes, as marcas de nascença e demais explicações. Vê-se nesse último infográfico que as histórias são, de fato, ligadas de várias maneiras possíveis. Esse roteiro eu gostaria de imprimir e usar como livro de cabeceira.

A saga de Cloud Atlas ("saga" é uma boa denominação) se desenvolve em 172 minutos. São quase 3 horas de muita ação, suspense, romance, comédia e filosofia. Aliás, misturar filosofia com cinema é algo que o os Wachowski fazem muito bem (vide Matrix). Saí da sala de cinema com uma dor de cabeça daquelas que, se pudesse, você tirava e colocava num potinho, como lembrança. Cloud Atlas é complexo, longo, pirotécnico, efusivo, amável, desprezível. E lindo.

2 comentários:

  1. Adorei a crítica, amei o filme. Além de apresentar uma filosofia, uma ideia sobre a vida, ele quebra qualquer forma de preconceito racial/sexual e traz um roteiro tão interessante que nos atiça a curiosidade de como ele foi criado. Genial.

    ResponderExcluir
  2. Sim, o relacionamento homossexual do filme é lindo. Suponho que deva ter havido alguma influência da Lana Wachowski (ex-Larry Wachowski) nisso tudo.

    Foco também na ideia de que, no futuro, os brancos estarão em uma formação humana tribal enquanto negros construíram uma sociedade tecnológica. O filme acerta em diversas quebras de paradigmas. Impecável.

    ResponderExcluir