domingo, 16 de dezembro de 2012

Somos adeptos da cultura da remixagem

Ultimamente, ao assistir alguns animes, eu me peguei pensando na capacidade japonesa de criar histórias. São tantos mangás, tantos animes, tantas histórias diferentes produzidas por inúmeros mangakas e estúdios. O mangá Bakuman, por exemplo, conta a história de uma dupla de mangakas querendo viver e construir uma historia de sucesso nas páginas da Shonen Jump, revista de maior sucesso do gênero voltada para o público jovem masculino no Japão.


No meio das desventuras da dupla de mangakas, dá para notar um pouco da loucura que é a vida dos editores da Shueisha, responsáveis pela curadoria de histórias da Jump. São MUITAS histórias desenvolvidas paralelamente, cerca de 20 por edição, isso em apenas um núcleo, que é o focado no público jovem masculino. Além desse, existem os mangás shoujo (para meninas), os mangás adultos, dentre centenas de outros públicos-alvo em dezenas de outras editoras. No Japão tem mangá até focado em donas de casa! Pretendo falar mais sobre Bakuman em breve, no momento vou me focar em uma das inúmeras coisas interessante na obra: essa "explosão criativa".

Acho que tô pra ver conceito mais amplo do que o de criatividade. Um quadro, uma peça de teatro, um livro, uma HQ, uma desculpa que vem depois do "não é o que você está pensando"... O que exatamente é ser criativo? Longe de mim tentar imaginar a resposta dessa pergunta. No entanto, o escritor e diretor Kirby Ferguson se lançou em um projeto para tentar desvendar a natureza do criar.


Tudo é um remix

Se nem Deus foi tãão criativo assim e usou a Si Próprio para criar nós à Sua imagem e semelhança, imagina se nós, pobres normais, teríamos cacife para tanto. É isso que Kirby questiona em seu filme Everything is a Remix. Dividido em 4 partes, o documentário aborda diversos temas sobre criação, indo de assuntos relacionados à genética e à memética, ao copyright e à "criatividade" hollywoodiana.

Os dados apresentados por Kirby nos fazem pensar sobre o que é criativo ou não hoje em dia. Sobre o que é a arte que tanto prezamos. É por isso que as salas de cinema estão sempre repletas de fãs de livros (Crepúsculo, Hobbit, Harry Potter), HQs (Vingadores, Batman), jogos (Resident Evil, Silent Hill). Tudo é assunto para Hollywood transformar em longa metragem, de parques temáticos da Disney (Piratas do Caribe) a  filmes de filmes que nunca foram feitos (Argo).


Vale a pena parar e assistir ao excelente documentário. O primeiro vídeo fala sobre o conceito de remix e como ele originalmente nasceu no âmbito musical e, posteriormente, migrou para outras mídias. Perceba que estamos falando do conceito, os "remixes culturais" existiam desde muito antes. Basta dar uma olhada, por exemplo, nos contos de fadas, resultados de combinações de inúmeros contos antigos. Shakespeare também era adepto dessa estratégia, basta dar uma lida em Sonhos de uma Noite de Verão. No final, das contas, todos somos fãs de um bom remix.

A segunda parte do documentário fala sobre remix e cinema, apontando dados interessantíssimos (para não dizer assustadores) do mercado cinematográfico. Dos 100 filmes de maior sucesso de bilheteria entre os anos 2000 e 2010, 74 foram adaptações, refilmagens ou continuações. Além disso, Kirby nos mostra o quanto de criativo há nas tramas fílmicas, na mistureba de referências que vários cineastas utilizam para "costurar" seu longas.


Essa análise dos filmes é interessante por dois spin offs do documentário original. Kirby se debruça sobre dois grandes sucessos do cinema e demonstra as referências utilizadas. São eles Matrix e Kill Bill.



Na terceira parte do documentário, Kirby se debruça sobre os elementos que formam a criatividade. Seu discurso exalta um dos elementos mais desprezados pelos criativos: a cópia. O ato de copiar tem papel importante na criação de boas ideias, e o vídeo abaixo fala sobre um dos cases de maior sucesso do mundo corporativo que muito se embasou no ato de copiar: a Apple.


Na última parte de seu documentário, Kirby faz um paralelo entre a evolução humana e o panorama em que nossa cultura se encontra hoje em dia. Um momento em que a evolução cultural esbarra em cláusulas legais que muitas vezes chegam a ser absurdas. Onde empresas que usaram da cópia, como a Apple, rejeitam quem os supostamente copia, como é o caso de ódio de Steve Jobs pelo sistema operacional Android. Atualmente, muito da evolução tecnológica e cultural é interceptada por essa imensa mão chamada Lei.


Everything is a Remix é um documentário genial e que demonstra bem no que estamos metidos. Somos bombardeados diariamente de informação, adquirimos produtos, pensamos e perdemos o foco na originalidade de cada um. Nos censuramos para nunca copiar, queremos sempre ser originais e criativos, e não percebemos a raiz disso tudo. Kirby Ferguson me fez pensar.

Uma das fotos dessa postagem foi feita em uma apresentação de Kirby no TED. Caso queiram assistir um pouco dele palestrando sobre o assunto, eis o vídeo. Novamente, é uma nova aula, com conteúdo além do documentário.


Para conhecer mais sobre o projeto, vale a pena dar uma olhada no site do cara. Lá tem muito material além do que é apresentado no documentário.

É isso. Hasta la vista, baby.

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